Os militares do Destacamento Territorial de Chaves da Guarda Nacional Republicana (GNR) estão no terreno neste mês de outubro para contabilizar todos os idosos que vivem sozinhos e/ou isolados e para sensibilizar os mais velhos para a adoção de comportamentos que ajudem a evitar serem alvo de burlas, no âmbito da operação “Censos Sénior 2022”.
O programa destina-se a idosos com mais de 65 anos que vivam sozinhos, ou isolados ou que vivam com outra pessoa que também já tenha ultrapassado aquela idade. A ideia é saber onde essas pessoas se encontram e quais as suas necessidades, no sentido de serem sinalizadas junto das entidades competentes.
Mas o trabalho dos militares da GNR não acaba aqui: os idosos registados no programa vão também receber várias visitas daquela autoridade no sentido de garantir a sua segurança e o seu bem-estar ao longo de todo o ano.
Uma das preocupações da GNR são as burlas. Em Vilarelho da Raia, Chaves, são conhecidas poucas situações desta natureza, contudo nunca é demais lembrar que as pessoas podem ser muito facilmente enganadas por outras que se fazem passar por funcionários da luz, do gás ou de outra empresa.
Muitas pessoas burladas acabam por não denunciar por vergonha, mas os militares alertam que é importante denunciar estas situações, caso contrário não poderão atuar.
Antigos combatentes e reformados da GNR e da PSP também são sinalizados
Paralelamente, a Guarda decidiu este ano sinalizar ainda antigos combatentes e reformados da GNR e da PSP. É o caso de Luís Cereja e do irmão que combateram entre 1967 e 1969 em Angola e Moçambique.
Para estes habitantes da aldeia raiana a visita da GNR é sempre bem-vinda àquela localidade.
Albina Gonçalves tem 80 anos e vive sozinha desde que se separou do marido há 10 anos.
Apesar de ter alguns problemas de visão, a dona Albina faz questão de visitar o Santuário do Senhor das Almas quase todos os dias. Ela contou aos militares que já houve uma mulher que a visitou e que sem pedir autorização lhe “entrou pela cozinha adentro”.
“Na altura fiquei sempre ao pé dela e ela foi perguntando algumas coisas, mas acabou por ir embora. E que eu tenha dado conta não me levou nada”, disse.
Militares deixam panfletos com informações úteis e contacto da GNR
Na opinião desta habitante, a presença da GNR na aldeia dá “mais confiança” e que se sente mais segura.
Ao lado vive Manuel de Carvalho com quase 81 anos. Durante 25 anos trabalhou numa mina de carvão. Desse tempo traz apenas as boas memórias, pois, até ver, a saúde é de ferro. Antes disso esteve também na Guerra do Ultramar.
Sobre a ação que trouxe a GNR a Vilarelho da Raia, Manuel de Carvalho refere que nunca foi burlado e lamenta que os amigos do alheio se aproveitem das "pessoas mais inocentes" para as roubar.
“Todos os dias vejo notícias, na televisão e na internet, e estou um bocadinho informado sobre isso. Nunca fui burlado”, garante.
Ricardo Pereira e Paulo Penso, militares da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário da GNR de Chaves, deixaram ainda panfletos com os vários conselhos da GNR e o contacto para ser usado caso seja detetada alguma coisa suspeita.
Sensibilizar os seniores para a adoção de comportamentos que evitem serem burlados
A ação dos militares foi acompanhada pelo presidente da Junta de Freguesia de Vilarelho da Raia. Fernando de Jesus considera que a presença da GNR “é uma mais-valia para todos os idosos”.
“É muito importante criar esse vínculo e acho que as pessoas se sentem muito mais seguras”, destacou o responsável, salientando que não tem conhecimento de nenhum caso problemático na aldeia, pelo menos durante a sua gestão, mas que “a prevenção só vem ajudar”.
Este responsável adianta que em Vilarelho da Raia vivem cerca de 400 idosos, muitos deles a viver sozinhos, uma realidade que cada vez é mais comum nas aldeias portuguesas.
A operação Censos Sénior acontece todos os anos no mês de outubro e é realizada através de um conjunto de ações de patrulhamento e de sensibilização dirigida aos idosos mais vulneráveis, em “ações de rua” ou “ações de sala” onde são dadas palestras.
O comandante da GNR de Chaves, capitão Orlando Rego, explicou que o objetivo passa por “atualizar a base de dados onde se encontra o registo das pessoas vulneráveis”.
A única visita que têm muitas vezes é destes militares da GNR
“Tentamos sempre passar conselhos de segurança: alertar para o conto do vigário, para as burlas, para situações de possível violência, tentamos verificar se há comportamentos aditivos”, esclareceu.
Caso seja notada a necessidade de cuidados de saúde, os militares alertam as autoridades de saúde para tomarem conta da situação. Noutros casos, em que é verificada alguma falta de higiene ou limpeza os mesmos sinalizam o idoso junto da Segurança Social ou da Comissão de Proteção de Idosos do Município.
De acordo com este responsável, no país existem mais de 25 mil idosos a viver sozinhos e/ou isolados, sendo que Vila Real, com mais de 5.000 idosos a viver nestas circunstâncias, é o distrito com mais pessoas sinalizadas.
“O nosso destacamento, que faz a cobertura de Chaves, Boticas, Valpaços e Montalegre, é aquele que tem mais pessoas registadas, com mais de 2.000 casos. Temos uma área geográfica de 2.200 quilómetros quadrados, a população não é muita mas encontra-se muito dispersa pelo território, acabando por ficar mais isolados”, salienta Orlando Rego, revelando ainda que nos últimos tempos não têm tido grandes ocorrências relacionadas com burlas. Pessoas a tentar vender peças de ouro costuma ser a situação mais comum.
Com a desertificação a aumentar na região, poucos são aqueles que voltam às suas terras de origem. Daí que estes idosos a única visita que têm muitas vezes é destes militares da GNR.
Burlas informáticas
“Eles ficam todos contentes quando vêm os guardas, se calhar ninguém os visita durante uma, duas ou três semanas. Nota-se que eles querem um bocadinho de conversa, querem conviver. Isso também faz parte do programa”, lembra o comandante da GNR de Chaves.
Relativamente ainda às burlas, este militar adiantou que hoje em dia o que mais se verifica são as burlas informáticas, que atinge toda a população. Em termos de furtos, e comparativamente aos últimos anos, os valores são muito semelhantes.
“Esporadicamente tem acontecido alguns furtos em residências. Causa sempre o alarme e a insegurança da população. Temos feito algumas diligências, nomeadamente o empenhamento do Núcleo de Investigação Criminal, de forma a tentar diminuir os furtos e a cimentar o sentimento de segurança”.
Recentemente a GNR realizou duas operações onde recuperou material furtado, o que demonstra “que estamos empenhados e a trabalhar para que mais casos não ocorram, rematou.
