Perto de seis dezenas de obras de arte da autoria de Alfredo de Morais e de Narciso de Morais estão em exposição na Casa dos Candeias, verdadeiras relíquias dos séculos XIX e XX que podem ser visitadas no museu da Casa, localizada em Adães, até ao final de novembro.
Entre vários quadros pintados a aguarela ou óleo, ilustrações, esboços e outros desenhos, é possível ficar a conhecer um pouco do trabalho destes dois pintores lisboetas já desaparecidos.
Vasco Brito é o grande anfitrião deste espaço museológico e conta que foi através da visita de Maria João Serpa à Casa, bisneta e trisneta dos autores, que surgiu a ideia de realizar esta exposição.
“Tudo começou porque a Maria João queria arranjar um museu que recebesse o quadro da avó, pintado pelo seu bisavô. Eu disponibilizei-me logo para o receber e garanti que ficaria aqui exposto”, disse Vasco Brito.
Depois de várias conversas entre ambos, Maria João acabou por confessar que tinha “imensas obras” destes seus familiares e que gostaria que o dono da Casa dos Candeias estudasse a hipótese de fazer uma exposição que incluísse mais trabalhos.
Trabalho de pesquisa contou com o apoio da Sociedade Nacional de Belas Artes
Vasco Brito salienta que o mais interessante desta mostra, e que não se encontra em mais nenhum espaço do género, é que muitas das obras não foram terminadas, permitindo ao visitante analisar os estudos, com apontamentos das cores e com vários pormenores inscritos, sendo sempre possível descobrir algo novo sobre os artistas.
A visita guiada à exposição é feita por este empreendedor que resolveu transformar há mais de uma década a casa do seu tio-padre numa casa-museu. Com o apoio da Sociedade Nacional de Belas Artes, Vasco Brito conseguiu assim pôr a descoberta o trabalho de dois grandes artistas portugueses que foram sendo esquecidos pelo tempo.
Alfredo de Morais (1872-1971) é trisavô de Maria João Serpa e dedicou grande parte da sua vida à pintura com aguarelas, onde a cena rural se destaca, e à ilustração, produzindo vários desenhos para livros escolares. Um desses livros de estudo que pertencia à tia de Vasco Brito foi inclusive recuperado e está também presente nesta exposição. Alfredo de Morais trabalhou durante 40 anos na Casa da Moeda e foi ainda professor na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Narciso de Morais, que viveu entre 1892 e 1977, era filho de Alfredo de Morais e embora tenha decidido seguir as pisadas do pai escolheu a paisagem e o retrato como as suas principais fontes de inspiração, trabalhando com aguarelas mas também com óleos.
Maria João Serpa regressou à Casa no início deste mês, altura em que foi inaugurada a exposição temporária: “O Vasco fez um trabalho maravilhoso de conseguir dar vida às obras dos meus familiares. É para mim um privilégio incrível porque eu nunca assisti a nenhuma exposição dos avôs e esta é a primeira mostra a que assisto”.
Visivelmente emocionada, esta bisneta e trisneta, revela ainda que a maior parte dos trabalhos são peças únicas que estavam longe da luz do dia há décadas e confessa que teve dificuldade em reconhecer alguns destes trabalhos presentes na exposição dado o trabalho minucioso realizado por Vasco Brito.
Espaço reforça as raízes transmontanas
“Quero agradecer ao Vasco e à casa por estarem a divulgar o trabalho dos meus avôs e por me terem dado o privilégio de conhecer estes trabalhos de uma forma que eu não conhecia. Souberam enaltecer, dar uma grandiosidade a trabalhos que eu não estava a ser capaz de valorizar convenientemente”, sublinhou.
Habituada a ver algumas das obras de arte espalhadas um pouco pela casa onde vive, ver agora os mesmos em exposição é para Margarida Fondevila, a filha de Maria João, um motivo de grande orgulho, ainda para mais num espaço onde as mesmas se enquadram na perfeição.
Presente na inauguração, o vice-presidente da Câmara de Chaves, Francisco Melo, salientou o “interesse enorme” desta iniciativa que promove turisticamente a freguesia e ao mesmo tempo o espaço rural.
“Isso não seria possível se não houvesse uma pessoa que gere esta Casa com coração e com vontade de demonstrar coisas diferentes”, referiu Francisco Melo, acrescentando que esta mostra, assim como o espaço museológico, reforçam as raízes transmontanas.
Para o responsável, a Casa dos Candeias é um local que poucas terras têm e que oferece a nível cultural e turístico uma oferta muito eclética, tendo sempre a tradição e a ruralidade em primeiro plano.
A Casa dos Candeias, que data de 1888, foi construída por um tio-padre que emigrou para o Brasil e que no seu regresso decidiu construir a casa. É um espaço recheado de história mas também de muitas memórias, que alberga objetos originais dos séculos passados e que através deles se consegue perceber a evolução da sociedade portuguesa, sobretudo do meio rural transmontano.
Embora o conteúdo deste edifício tenha a história como guia, a casa está em constante mudança porque, refere o proprietário, há cada vez mais pessoas a oferecer peças genuínas para compor o espólio do museu, uma situação que tem gerado grande interesse por parte de grupos estrangeiros que vêm do México e até da Índia para conhecer esta casa que pertence à freguesia de Santa Leocádia, no concelho de Chaves.
A visita à Casa demora cerca de uma hora e 30 minutos, onde os detalhes associados a pessoas reais são partilhados com o visitante.
Como chegar à Casa dos Candeias:
Rua da Fonte, 68 Adães, 5400-740 Chaves
Contacto: 969 011 369 ou e-mail: [email protected]
























