Nuno Neves é responsável por cuidar das vinhas e também pela produção de vinho na Quinta do Salvante, que está na família há oito gerações. Há dois anos que este produtor vinícola da Terra Quente proporciona uma lagarada tradicional, desde o corte até ao pisar das uvas em lagares com mais de dois mil anos de história.
Este produtor esclarece que Valpaços é o concelho com o maior número de lagares escavados na rocha ao nível da Península Ibérica, existindo cerca de 130 exemplares. O lagar rupestre de Santa Valha é um dos maiores, o melhor conservado, e também o mais procurado.
Depois de feita a vindima, numa vinha que já conta com quase 200 anos de vida, é nestes lagares que se pisam as uvas, não só porque a qualidade do vinho é melhor mas também para manter a tradição.
“Para um vinho de lagar rupestre é obrigatório ter uvas brancas e tintas”, lembra Nuno Neves.
Vários homens e mulheres começam depois a pisar as uvas. Primeiramente é retirado o líquido de “bica aberta”, é o chamado rosé que vai a fermentar em barrica.
Não há adição de quaisquer químicos
“O restante fica dentro do lagar e é este que vai dar o tinto”, conta o proprietário da quinta valpacense. “São 225 litros de cada”, que vão originar 280 garrafas, que no mercado esgotam com grande rapidez.
Este foi o segundo ano consecutivo que a Quinta do Salvante utilizou o lagar rupestre para produzir vinho, uma tradição com vários séculos que Nuno Neves considera ser importante passar para as gerações futuras.
O vinho que sai dos lagares escavados na rocha é, na opinião deste especialista, um vinho “completamente diferente”, não só pela mistura de castas, mas também porque não há adição de quaisquer químicos: “São as leveduras indígenas que tratam da fermentação”.
Além da qualidade das uvas, é preciso ter em conta o clima, pois é este que vai ditar a duração do vinho no lagar.
Quanto à colheita deste ano, este produtor garante que nas vinhas centenárias foi “melhor do que aquilo que estava a prever”, ao contrário do que aconteceu com as restantes videiras, mais novas, em que os bagos não cresceram devido à falta de água.
A Quinta do Salvante é conhecida pela sua grande variedade de vinhos, mas produz também azeite e mel, num espaço agrícola composto por 16 hectares de terreno granítico, sendo seis hectares constituídos por vinhas centenárias, que remontam a 1916 e que Nuno Neves garante serem as mais novas das centenárias. Para que a extensa vinha se mantenha, anualmente são plantadas novas videiras.
A lagarada é sempre motivo de entusiasmo por estes dias em Valpaços. O presidente da Junta de Freguesia de Santa Valha, Carlos Vieira, também se juntou ao trabalho, uma tradição que faz questão de acompanhar.
Adérito Medeiros Freitas identificou mais de uma centena destes lagares
“Ajudamos sempre no que for preciso, seja com a carrinha ou para transportar as pessoas”, frisa o autarca.
Para facilitar o acesso ao lagar rupestre de Santa Valha, a junta de freguesia procedeu à melhoria do pavimento que conduz ao local da lagarada.
Carlos Vieira já conhece o lagar escavado na rocha em Santa Valha desde criança e acredita que ainda haverá outros por descobrir. O investigador Adérito Medeiros Freitas identificou no município de Valpaços mais de uma centena destes lagares escavados em maciços graníticos, um trabalho que demorou vários anos e que deu origem a três livros e à realização de um simpósio ibérico.
Carlos Vieira, presidente da Junta de Freguesia de Santa Valha.
