
O Casino de Chaves promoveu no sábado um espectáculo inesperado. O Jantar Concerto juntou a banda Fadomorse com a Orquestra de Sopros da Academia de Artes de Chaves (AAC), recentemente laureado com o prémio de melhor Orquestra do Mundo no seu nível,
A razão principal prende-se com o facto da banda Fadomorse celebrar 25 anos de existência a divulgar «uma estética musical genuína» de raízes transmontanas que apesar de menos conhecida, do grande público adormecido pelas canções populares de imensos artistas que nos seus textos representam essa realidade glicodoce ainda alienada mas que as pessoas querem acreditar.
A simbiose entre o Fadomorse e a Orquestra de Sopros da AAC imergiu-nos num universo musical único, universal que conseguiu provar que é do quotidiano, que a harmonia dos sons naturais e a realidade conceptual mais densa e menos imediata: o sino da Torre da Aldeia, as vozes das mulheres e dos homens, dos nossos transmontanos mais recônditos constituíram escolhas musicais e possibilidades inauditas onde a música universalizava e nos catapultava para uma realidade sem diferenças, onde cada Homem sem perceber sentia-se fazendo parte do Todo.
No entanto, esta oportunidade única de músicos e público nos sentirmos unidos pela Arte Maior duma música cuja sonoridade nos envolve numa comunhão de um humanismo comovente, envolvente não agradou a todos pois alguns depois de jantar, que até foi bom, se retiraram subrepeticiamente. O que assusta não é a liberdade de cada qual fazer as suas opções, mas a inflexibilidade perante o que é artístico, surpreendente e de grande qualidade.
Em síntese, atrevo-me a dizer que testemunhei um espectáculo único de enorme qualidade e por isso, congratulo o Casino por o promover, mas sobretudo os músicos pelo empenho, a paixão, a consciência de estarem a partilhar algo de diferente mas simultaneamente tão puro e espontâneo.
M.R.