domingo. 04.06.2023
Luciano Pereira, maestro da orquestra de Sopros da Academia de Artes de Chaves.
Luciano Pereira, maestro da orquestra de Sopros da Academia de Artes de Chaves.

O professor e maestro admite que não ficou surpreendido com o reconhecimento público atribuído à Orquestra de Sopros da Academia de Artes de Chaves (AAC) a nível mundial, mas confessa que gostaria que a mesma fosse “mais acarinhada” dentro da cidade de Chaves.

A Orquestra de Sopros da AAC chegou a Kerkrade, na Holanda, atuou durante quase uma hora no 19º World Music Contest, o maior evento de música de sopros em todo o mundo, e venceu, com uma pontuação muito próxima do máximo possível: 97.23 pontos em 100.

Parece simples, mas Luciano Pereira garante que não é bem assim, porque só com muito trabalho, dedicação e talento é que se consegue chegar ao topo dos topos.

Em nenhum momento se consegue fazer seja o que for sem um sacrifício enorme e sem um foco de trabalho. Quando se junta esta consciência ao enorme talento e qualidade musical que estes miúdos têm, a única coisa que se pode esperar é o máximo dos objetivos”, referiu o responsável.

Questionado sobre se estava à espera que a orquestra que dirige se tornasse campeã do mundo, Luciano Pereira é perentório: “Sim, estava. Não é muito normal dizer isto, mas estava. A orquestra tem já um percurso muito longo. Em 2008 começamos com um grupo muito pequeno, começámos do zero, e rapidamente percebemos o que era necessário para evoluir, e acima de tudo de uma forma sólida”.

No concurso “tínhamos bandas de topo mundial, mas claro que já sabíamos há algum tempo que também nós somos uma banda de topo mundial. Se é verdade que qualquer uma delas poderia ter ganho e o prémio ficaria bem entregue, também é verdade que temos muita qualidade para nos sobrepor e mostrar o trabalho incrível destes miúdos”, acrescentou.

Uma Orquestra de Sopros do Interior do País com os olhos postos no Mundo

Há 14 anos que a Orquestra de Sopros tem conseguido atingir objetivos que pareciam impossíveis para um grupo formado no Interior do país. Apesar de já ter dado provas do seu talento, Luciano Pereira lamenta que seja preciso continuar a convencer as pessoas a darem mais atenção ao trabalho desenvolvido pelo grupo.

“É fantástico ir à Holanda, estar entre os melhores, levar a visibilidade daquilo que é a nossa terra, a nossa região, país e identidade, mas continuar a trabalhar para convencer toda a gente daquilo que está aqui a acontecer é uma tarefa um pouco ingrata”.

Este maestro acredita que o Entretenimento e a Cultura se confundem muito e aquilo que é feito pela orquestra é Cultura.

Desenvolvemos jovens músicos, os seus horizontes a nível cultural, mas acima de tudo desenvolvemos o nosso meio. Por isso é tão importante ter o auditório cheio. Conseguir levantar o público, como em Kerkrade, onde estavam cerca de 1.000 pessoas, incluindo oito flavienses, é porque alguma coisa de especial aconteceu e é porque temos aqui algo de muito especial”.

Na opinião deste flaviense, a orquestra deve ser acarinhada porque com a mesma qualidade e dedicação “não existe em muitos lados”, por isso, sublinha, é importante que “estimemos o “tesouro que aqui temos”.

Apoio da Associação de Pais da AAC tem sido imprescindível

Na Holanda, a Orquestra de Sopros da AAC competiu com outras seis bandas provenientes da Bélgica, da Holanda, da Suíça, da Itália e da Áustria. Inclusive, salienta Luciano Pereira, foi por causa desse nível de excelência que levou a orquestra a concorrer na categoria mais destacada do evento, “Wind Band” na secção “Concert Division”.

Em cima do palco o grupo flaviense apresentou um “concerto estruturado e completo” com a Nacional 2 (N2) como pano de fundo. A atuação foi composta por quatro peças: a primeira a música, “Asphalt Cocktail” de John Mackey, contou com um vídeo em time lapse de toda a extensão da N2, desde Faro até Chaves; a segunda peça, “Bodega” de Salvador Sebastiá, serviu para apresentar as regiões vinícolas que a mítica estrada atravessa ao longo do território. Aqui, refere o maestro, foi “um dos momentos mais especiais do concurso” com António Ribeiro, um dos membros da Associação de Pais da AAC, a desenhar em direto motivos relacionados com as regiões vinícolas.

O terceiro tema interpretado pelos jovens músicos foi “Just Flying” da compositora Julie Giroux que teve a acompanhar imagens das montanhas e dos rios que se vão encontrando ao longo da N2, terminando com a estreia absoluta da Sinfonia nº3 do espanhol Martínez Gallego que tem como subtítulo “Aquae Flaviae”, onde foram utilizados temas de tradições e de trabalho.

Esta apresentação resultou numa peça de quase 25 minutos, “uma monumentalidade incrível” e com uma “identidade muito própria”, mas ao mesmo tempo com uma visão externa do que é a Cultura e as tradições da região.

Orquestra de Sopros da AAC é formada por jovens músicos, professores e ex-alunos da mesma.
Orquestra de Sopros da AAC é formada por jovens músicos, professores e ex-alunos da mesma.

O maestro flaviense acredita que as imagens passadas durante o concerto deixaram “um interesse muito grande no público sobre aquilo que é a nossa cidade”. Além desta peça, houve ainda a apresentação de outras, num total de mais de 50 minutos de atuação.

O mestre e obreiro desta orquestra aproveita a ocasião para agradecer à Associação de Pais da AAC pelo “trabalho incrível” que desenvolveu para conseguir angariar fundos para levar o grupo até à Holanda e assim concretizar o sonho de um concelho, região e país.

NOTÍCIAS CHAVES | Luciano Pereira: É importante que “estimemos” o “tesouro que aqui temos”
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