quinta-feira. 28.03.2024

NOTÍCIAS CHAVES | “Um amor tardio”: Manuel Araújo faz parte dos grandes autores portugueses

FOTO: Cátia Portela

Sinopse: Há uma aldeia onde não há espaço para morrer. O cemitério não tem espaço e o padre recusa acompanhar os mortos enquanto não houver um cemitério novo. Há um homem e uma mulher que, embora vivendo na mesma pequena aldeia nunca se cruzaram, exceto naquela tarde. Há uma menina sozinha a viver numa casa esburacada enquanto o pai trabalha arduamente e a tem como que sequestrada, embora faça tudo para que ela não passe fome nem frio. Há o fogo do lume. Há o amor que desponta tarde naquela encruzilhada.

Manuel Araújo (Esq.), Nuno Vaz e Ernesto Areias. | FOTO: Cátia Portela.

O auditório da Biblioteca de Chaves encheu ontem para conhecer o novo livro de Manuel Araújo.

“Um amor tardio” tem como cenário uma aldeia isolada, rodeada de montanhas, “com poucas notícias do mundo” e onde o tempo vai passando sem grandes novidades, condicionado pela Igreja e também pelo Estado Novo. A condição da mulher é outro dos temas presentes assim como os costumes alimentares da época.

De acordo com Ernesto Areias, advogado e escritor, responsável por apresentar o livro, Manuel Araújo relata alguns aspetos da sua infância, numa aldeia ficcionada denominada de “Alminhas”.

“Esta aldeia poderia ser perfeitamente um bairro de uma cidade industrial, tendo em comum os invalidos e a pobreza que ali se vive”, salienta.

Nesta obra “há um estilo muito límpido, com uma linguagem muito bem construída e é um louvor que eu deixo ao autor”, refere Ernesto Areias, acrescentando: “O Manuel Araújo faz parte dos grandes autores portugueses”.

Ernesto Areias aproveitou ainda a ocasião para sugerir à autarquia a criação de um espaço na Biblioteca Municipal dedicado às últimas publicações dos escritores de Chaves, dando a conhecer os autores que são aqueles “que escrevem as memórias e a história da região.

Presente no encontro, o presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, salientou o percurso deste escritor flaviense e agradeceu o seu contributo para a “riqueza” de Chaves.

Esta obra será certamente “mais uma reflexão profunda e uma visão muito pessoal sobre a terra, o religioso, a relação do homem com o seu contexto, e certamente é mais uma forma de nos podermos redescobrir”, sublinhou o autarca flaviense.

“Nós tendemos a medir a nossa riqueza pela moeda. Mas de facto eu acho que um povo se deve medir pela história e pela literatura. Assim sendo, estamos hoje mais ricos, obrigada professor Araújo”, rematou.

Sem desvendar a história da sua nova obra, Manuel António Araújo explicou os motivos que o levaram a escrever o livro e ainda sobre a disposição dos autores para a escrita.

“Eu escrevo porque sou triste. Não é uma tristeza desgraçada, é uma tristeza ontológica que me acompanha sempre. Depois há outras razões. Uma delas tem que ver com uma espécie de paradoxo que o escritor vive: os escritores são homens e mulheres com dificuldades de interagirem com a sociedade (…) e na minha casa, o que escrevo eu sou o maior. Eu mato as personagens, invento as personagens, dou tendências sexuais às personagens, eu faço o que quero. Eu sou o rei. Eu sou completamente livre. Não há ninguém no mundo mais livre do que o escritor”, referiu Manuel Araújo.

A obra, composta por perto de 250 páginas, foi publicada pela editora Astrolábio Edições.

Escritor Manuel Araújo. | FOTO: Cátia Portela.
Escritor Manuel Araújo. | FOTO: Cátia Portela.

 

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