O auditório da Biblioteca de Chaves encheu ontem para conhecer o novo livro de Manuel Araújo.
“Um amor tardio” tem como cenário uma aldeia isolada, rodeada de montanhas, “com poucas notícias do mundo” e onde o tempo vai passando sem grandes novidades, condicionado pela Igreja e também pelo Estado Novo. A condição da mulher é outro dos temas presentes assim como os costumes alimentares da época.
De acordo com Ernesto Areias, advogado e escritor, responsável por apresentar o livro, Manuel Araújo relata alguns aspetos da sua infância, numa aldeia ficcionada denominada de “Alminhas”.
“Esta aldeia poderia ser perfeitamente um bairro de uma cidade industrial, tendo em comum os invalidos e a pobreza que ali se vive”, salienta.
Nesta obra “há um estilo muito límpido, com uma linguagem muito bem construída e é um louvor que eu deixo ao autor”, refere Ernesto Areias, acrescentando: “O Manuel Araújo faz parte dos grandes autores portugueses”.
Ernesto Areias aproveitou ainda a ocasião para sugerir à autarquia a criação de um espaço na Biblioteca Municipal dedicado às últimas publicações dos escritores de Chaves, dando a conhecer os autores que são aqueles “que escrevem as memórias e a história da região.
Presente no encontro, o presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, salientou o percurso deste escritor flaviense e agradeceu o seu contributo para a “riqueza” de Chaves.
Esta obra será certamente “mais uma reflexão profunda e uma visão muito pessoal sobre a terra, o religioso, a relação do homem com o seu contexto, e certamente é mais uma forma de nos podermos redescobrir”, sublinhou o autarca flaviense.
“Nós tendemos a medir a nossa riqueza pela moeda. Mas de facto eu acho que um povo se deve medir pela história e pela literatura. Assim sendo, estamos hoje mais ricos, obrigada professor Araújo”, rematou.
Sem desvendar a história da sua nova obra, Manuel António Araújo explicou os motivos que o levaram a escrever o livro e ainda sobre a disposição dos autores para a escrita.
“Eu escrevo porque sou triste. Não é uma tristeza desgraçada, é uma tristeza ontológica que me acompanha sempre. Depois há outras razões. Uma delas tem que ver com uma espécie de paradoxo que o escritor vive: os escritores são homens e mulheres com dificuldades de interagirem com a sociedade (…) e na minha casa, o que escrevo eu sou o maior. Eu mato as personagens, invento as personagens, dou tendências sexuais às personagens, eu faço o que quero. Eu sou o rei. Eu sou completamente livre. Não há ninguém no mundo mais livre do que o escritor”, referiu Manuel Araújo.
A obra, composta por perto de 250 páginas, foi publicada pela editora Astrolábio Edições.