
Castelões e Soutelinho da Raia são as primeiras aldeias na região do Alto Tâmega e Barroso a receberem uma central de produção de energia fotovoltaica que vai permitir às comunidades locais usufruírem de energia verde, com um desconto de aproximadamente 30%, relativamente ao custo da energia da rede.
Com uma potência fotovoltaica que ronda os 86kWp, as duas centrais irão produzir cerca de 70MWh de energia limpa por ano. Trata-se de um projeto pioneiro na região levado a cabo pela empresa Cleanwatts que iniciou em 2021 uma campanha de crowdlending (financiamento colaborativo), para angariar "investidores" para a instalação de centrais fotovoltaicas na freguesia de Calvão e Soutelinho da Raia.
A central de Soutelinho da Raia foi financiada por 626 investidores, num total de 84.850€. Já em Castelões, o projeto contou com a adesão de 545 clientes que investiram 67.400€ para usufruírem de energia mais amiga do ambiente.
O presidente da Junta de Freguesia de Calvão e Soutelinho da Raia, António Reis, adiantou que "as duas centrais estão apenas presas pela injeção de energia na rede, resultante do atraso da responsabilidade da E-Redes", prevendo-se que os habitantes comecem a usufruir desta nova energia no mês de março.
De acordo com a empresa promotora do projeto, “esta é a primeira vez que, em Portugal, um projeto deste tipo é financiado através de crowdlending, uma forma de crowdfunding, mas com base em empréstimos e não em equity”.
Terceira central fotovoltaica, de maior potência, será instalada na aldeia de Calvão
Outra particularidade deste projeto tem a ver com o “facto de resultar da união de esforços dentro da comunidade”, uma vez que os terrenos onde estão a ser instaladas as centrais fotovoltaicas foram cedidos por habitantes locais.
Ainda segundo a mesma responsável, esta forma de financiamento colaborativo “não tem encargos de subscrição, sendo o montante mínimo de 5€”. Numa primeira fase o projeto quis dar prioridade aos moradores daquelas aldeias para investirem e só mais tarde é que foi aberto a todos os interessados.
Para António Reis, a criação das comunidades de energia, através das centrais fotovoltaicas, é motivo de orgulho por serem as primeiras aldeias a aderir a esta fonte de energia limpa, dando mais um passo no sentido da descabonização, com uma redução de dióxido de carbono para a atmosfera de 44 toneladas ao ano.
Este responsável adianta ainda que a terceira central fotovoltaica, de maior potência, será instalada na aldeia de Calvão, tendo sido alvo de uma candidatura ao Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
Mencionando ainda algumas das características do projeto, António Reis salienta que os aderentes destas “comunidades não terão de fazer nenhum investimento nem de alterar os seus contratos com o seu comercializador de energia, passando todavia a consumir, durante as horas de sol, uma parcela da energia de que necessitam a partir de uma fonte local, verde”

De salientar, e de forma a agilizar o processo localmente, a Cleanwatt estabeleceu um acordo de parceria com o engenheiro Alexandre Araújo e o presidente da freguesia como representantes das centrais locais, assim como a nível da zona Norte do país. O projeto conta ainda com o apoio do professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Cláudio Monteiro.
Esta iniciativa, na qual a freguesia de Calvão e Soutelinho da Raia se encontra inserida, faz parte do programa “100 Aldeias” – premiado com o Prémio de Inovação Social Power Technology Excellence Awards, na categoria de “Impacto Social”.
A primeira comunidade de energia a ser criada foi em Miranda do Douro, existindo ainda outra no Porto.