quinta-feira. 28.03.2024
Setor da castanha teve quebras de produção na ordem dos 70%. | FOTO: Cátia Portela.
Setor da castanha teve quebras de produção na ordem dos 70%. | FOTO: Cátia Portela.

A Câmara de Valpaços quer que Governo adote medidas urgentes de apoio à agricultura, setor que foi fortemente afetado pela quebra de produção devido às alterações climáticas, resultando num prejuízo de milhares de euros na economia local, que associado à subida colossal dos preços das matérias-primas fez aumentar ainda mais as dificuldades financeiras das famílias que dependem deste setor.

Na proposta, assinada pelo presidente da Câmara de Valpaços, Amílcar Almeida, é salientada a importância do setor agrícola no concelho valpacense, com ênfase para a produção da castanha, do azeite, do vinho e da amêndoa, que gera um volume anual de transações no valor de 150 milhões de euros.

Amílcar Almeida refere, no mesmo documento, o contributo do município para a vitalidade deste setor, através do apoio em iniciativas destinadas à comercialização dos principais produtos, designadamente, na publicitação dos vários eventos locais, bem como no apoio dado aos agricultores nos certames que têm lugar a nível nacional e internacional, sendo que na balança comercial o concelho de Valpaços exporta “hoje 18 vezes mais1” do que aquilo que importa, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

Tal como aconteceu um pouco por todo o país, o ano agrícola de 2022 ficou marcado no concelho de Valpaços por uma quebra muito acentuada nas produções da castanha, azeitona, amêndoa e uva, como resultado das alterações climáticas que se fizeram sentir (geadas, ondas de calor e seca extrema), resultando num prejuízo de milhares de euros na economia local, com consequências nefastas no rendimento de muitas famílias.

No setor da castanha as quebras na produção rondam os 70%, sendo que em anos normais, a colheita cifra-se entre as 12 mil a 15 mil toneladas deste fruto, o que equivale a cerca de 50 milhões de euros. A cultura da castanha tem ainda sido ameaçada por várias doenças, nomeadamente o cancro do castanheiro, a doença da tinta e a vespa das galhas do castanheiro.

Serra da Padrela com a maior mancha de castanha judia da Europa

É no concelho de Valpaços, mais precisamente na Serra da Padrela, que se situa a maior mancha de castanha judia da Europa, constituindo, paralelamente, um dos principais centros de produção de castanha de Portugal e onde se encontra a maior mancha contínua de castanheiros de toda a Península Ibérica.

O presidente da autarquia explica na proposta, que será entregue ao Presidente da República, primeiro-ministro, à ministra da Agricultura e Alimentação, à ministra da Coesão Territorial, ao secretário de Estado da Agricultura, à secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, à Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, Juntas de Freguesia do concelho e associações do setor, que os apoios ao setor agrícola são determinantes para a sobrevivência das populações, num concelho onde predomina a monocultura.

Já no setor do azeite, a Câmara de Valpaços revela que as quebras na produção situam-se na ordem dos 50%. A produção média anual de azeitona é de 13 mil toneladas, ou seja, Valpaços é o sexto maior produtor de azeite de Trás-os-Montes com Denominação de Origem Protegida (DOP), entre os 12 concelhos que compõem a região. No total existem cerca de 75.034 hectares de olival em Trás-os-Montes e cerca de 6.000 são no concelho de Valpaços.

Também no setor da amêndoa as quebras na produção rondaram os 50%. O concelho de Valpaços é hoje o sexto maior produtor de amêndoa de Trás-os-Montes, com uma área aproximada de 1.600 hectares.

Na cultura da vinha, a produção foi afetada em 30%, uma cultura que “para além da importância histórica no concelho e sua tradição, assume uma excecional importância social e económica, pela variedade e relevo das atividades que lhe estão ligadas, sendo, que hoje, são várias as associações e entidades sediadas em Valpaços, ligadas ao setor do vinho, designadamente a Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes, a Adega Cooperativa de Valpaços, a TRASVINIS- Associação de Produtores e Engarrafadores de Trás-os-Montes, a Confraria dos Vinhos Transmontanos e a Casa do Vinho”, lê-se no texto.

Falta de mão-de-obra e dificuldades no acesso aos mercados de escoamento 

Amílcar Almeida aponta ainda a subida colossal dos preços das matérias-primas, designadamente, dos adubos e das matérias orgânicas, cujo preço triplicou face ao ano de 2021, assim como o aumento do preço do combustível, como resultado da guerra na Ucrânia, vieram aumentar ainda mais as dificuldades financeiras das famílias que dependem do setor agrícola.

A economia do concelho de Valpaços assenta essencialmente no setor primário, um setor que “atualmente manifesta inúmeras adversidades, desde logo a falta de mão-de-obra, as dificuldades em sede de escoamento dos produtos, como consequência da falta de bons acessos aos mercados, que liguem o concelho aos grandes centros urbanos e portos marítimos, fruto da interioridade”, acrescenta o mesmo responsável.

Outra das dificuldades apontadas é a escassez de reservas de água no território concelhio devido à inexistência de um reservatório hidroagrícola, uma candidatura apresentada pelo município no âmbito do Plano Nacional de Regadios e que “há muito tempo” aguarda pela decisão final para a criação do projeto de Aproveitamento Hidroagrícola de Maceiras, situado na Freguesia de Padrela e Tazem.

Todos estes fatores contribuem manifestamente para o abandono da terra e consequentemente para o despovoamento do território, já por si tão fragilizado”, realça o documento, sendo por isso “imperioso que o Estado Central adote urgentemente medidas que visem mitigar as dificuldades ora sentidas por quem, essencialmente, trabalhe e viva da terra, contribuindo para o crescimento do país e simultaneamente impeça a migração e o agravamento do fosso da coesão territorial”, acrescenta.

Neste contexto, o presidente da Câmara de Valpaços propõe que o Governo adote medidas urgentes e muito concretas de apoio aos produtores da castanha, azeitona, vinho e amêndoa, por exemplo através do apoio financeiro direto, a título compensatório, tendo por base o diferencial entre a faturação desta campanha e a média aritmética dos últimos três anos (2019, 2020 e 2021), proposta que o dirigente daquela autarquia acredita que irá contribuir para a sustentabilidade deste território e para a fixação das populações do Interior.

NOTÍCIAS VALPAÇOS | Valpaços pede apoios para mitigar prejuízos no setor agrícola