quinta-feira. 28.03.2024

OPINIÃO | Solo Emmanuel Pahud

O álbum “Solo” de Emmanuel Pahud é constituído aproximadamente por duas horas e meia de repertório a solo de flauta. É uma tarefa difícil, mas o domínio da técnica, o virtuosismo e a interpretação de Pahud fazem com que o álbum seja muito interessante.

Emmanuel Pahud é um flautista franco-suíço, nascido a 27 de janeiro de 1970. Foi nomeado Flauta Principal da Orquestra Filarmónica de Berlim e, aos 22 anos, era o músico mais novo da orquestra. Pahud faz cerca de 160 concertos por ano - quase o dobro do número de apresentações que a maioria dos músicos consideraria uma carga de trabalho pesada.1 É considerado um dos músicos mais empolgantes e aventureiros da atualidade, conhecido pelo seu amplo repertório, incluindo barroco, clássico, jazz e contemporâneo.2

 

O disco duplo “Solo” alterna as 12 Fantasias de Telemann com obras que vão da Sonata Appassionata de 1917 de Karg-Elert à Petite Suite 2016 de Widmann.

O álbum é constituído por dois discos, onde Pahud interpreta 27 peças. Estas variam bastante em termos de época musical, pois vão desde o barroco até ao contemporâneo. Este documento irá focar-se nas Fantasias de Telemann e nas obras Air e Sonata Appassionata, Op. 140.

 

As 12 Fantasias para Flauta Solo de Telemann foram publicadas em Hamburgo no século XVIII e são destinadas a serem executadas a solo, ou seja, para instrumentos sem um acompanhamento. Pahud consegue realçar de forma convincente a polifonia implícita nas Fantasias através dos seus ataques nítidos e do som utilizado nos diferentes registos, destacando o contraponto do registo grave com o registo agudo.3 Uma qualidade do flautista que é bastante evidenciada nas Fantasias é a diferença de dinâmicas e cores, que tornam estas fantasias barrocas em algo completamente variado e distinto.

 

Na obra Air de Takemitsu, o contraste de dinâmicas destaca-se ao longo de toda a peça. Logo no início, a diferença entre o pianíssimo e o forte remete para a ideia de suspense e de não se saber o que vai acontecer a seguir. Também os crescendos e os diminuendos são muito evidenciados. Os ataques no registo agudo são impecáveis e, assim como nos sucessivos diminuendos, a afinação mantém-se sempre estável. A métrica varia muito ao longo da obra, pois há muitas alterações de compassos, o que para alguns músicos pode ser complicado. Não obstante, a técnica de Pahud é infalível e as mudanças de compasso não influenciam de todo a performance, visto que esta se baseia mais na frase e não compasso a compasso . No fim da peça é repetido o tema inicial, acabando num diminuendo al niente no registo médio, sendo este irrepreensível.

 

Karg-Elert, compositor e organista do final do século XIX e início do século XX, ficou fascinado com as ilimitadas possibilidades técnicas da flauta de Boehm e, graças a ele, deu-se início a uma nova e próspera temporada de composições importantes para flauta.4 Entre estas, a Sonata Appassionata para Flauta apresenta um solo extraordinário e lírico de cinco minutos com características tipicamente românticas tardias. Pahud consegue mostrar de forma extremamente expressiva as mudanças tímbricas presentes na obra, assim como o cromatismo presente logo no tema inicial. Também as sequências presentes ao longo da obra (ex.: cc. 15- 29) são muito explícitas, de forma a reforçar claramente a ideia de repetição em vários fragmentos. O tema secundário é intensamente expressivo e provavelmente a parte da obra que requer mais mudanças tímbricas e de dinâmica repentinas a meio da linha melódica.5 Pahud faz estas alterações de uma forma natural e de maneira a não quebrar a frase, o que é bastante difícil. Por fim, na coda inicia-se mais uma vez uma sequência em repetição onde o crescendo desde o compasso 105 e o até ao compasso 112 é notável. A interpretação do flautista consegue demonstrar toda a tensão criada desde o pianíssimo até ao fortíssimo, utilizando também um pequeno acelerando progressivo.

 

Considero que, para qualquer músico, ouvir um álbum de Emmanuel Pahud é, sem dúvida, bastante enriquecedor. A sua interpretação em todo o repertório é brilhante, assim como a sua sonoridade ampla e todas as diferenças de cores nas várias obras. Aconselho vivamente a audição deste álbum a todos aqueles que se interessem por música e que tenham curiosidade em ouvir as imensas possibilidades da flauta em distintas épocas musicais.

Recensão crítica de Ana Miguel, trabalho elaborado para a disciplina de Projetos Coletivos e Improvisação, com orientação da Prof. Ângela da Ponte. Turma do 3º A, Curso Profissional de Instrumentista Cordas & Teclas e Sopros e Percussão da Academia de Artes de Chaves.

OPINIÃO | Solo Emmanuel Pahud