Vamos acrescentando coisas ao futuro
Umas porque queremos
Outras sem darmos conta
Outras sem querermos
E ele vai-se definindo
Ficando cada vez mais certo
E isto
Que antigamente nos parecia bem
E que até chegámos a desejar
Inconscientes do que pedíamos
Começa a assustar-nos
Começa a fugir-nos do controlo
Que alegremente negávamos
Sempre com a desculpa
Das circunstâncias
Que a responsabilidade era toda
Das margens do rio
E de repente a coisa fica séria
Dizem-nos que a solução
Está na aceitação
Nós
Que tínhamos a convicção íntima
De que estava na escolha
Na liberdade
No inconformismo
Ou até na revolta…
Começamos a acender velas
Umas atrás das outras
Ainda não as tínhamos apagado todas
E já alguém nos está a acender mais
Dizem-nos para sorrir
Para uma fotografia
Para memória futura
Para quando já não estivermos
E nós sopramos as velas
De repente tornamo-nos obedientes
Nós que contestávamos tudo
E pensamos
Numa tentativa frustrada de conforto:
É a vida
No singular momento
Em que temos a morte à nossa frente
E o futuro como certo
Bolas!