quinta-feira. 28.03.2024

OPINIÃO | Lateralus (Tool)

 

Tool é uma banda de metal norte-americana formada em 1990, em Los Angeles. A banda é constituída pelo baterista/percussionista Danny Carey, o guitarrista Adam Jones, o vocalista Maynard James Keenan e o baixista Justin Chancellor.

 

São conhecidos por fundir o obscuro do metal com a ambição do art rock, criando músicas em camadas e secções múltiplas como se fossem compositores clássicos, notando-se assim grande influência da música clássica. Um estilo único e nunca antes visto na história do metal. Enquanto abraçavam o artístico e o alternativo, também prestavam homenagem musical às visões sombrias do death e thrash metal. Mesmo com as suas influências, eles executaram a sua música com o som e a sensação de metal progressivo, alternando entre longos e detalhados interlúdios instrumentais e discursos líricos, basicamente foram contemporâneos do nu-metal.

 

Os seus esforços para unificar a experimentação musical, artes visuais e uma mensagem de evolução pessoal notou-se principalmente com Lateralus, de 2001.

Lateralus é o terceiro álbum da banda, lançado a 15 de maio de 2001. Foi gravado de outubro de 2000 até janeiro de 2001 pela Zoo Entertainment. Para além de Lateralus a editora gravou mais dois álbuns para a banda, que se tornaram em discos de platina. Foi produzido pelo produtor David Bottrill que já tinha trabalhado com a banda em três outros álbuns. Já produziu para grandes bandas, como Dream Theater, Mudvayne, Muse, entre outras.

 

Lateralus estreou em primeiro lugar no Billboard 200, foi certificado dupla platina pela RIAA (Recording Industry Association of America) , foi certificado Ouro pelo BPI (British Phonographic Industry) e também certificado como platina na Austrália e platina dupla no Canadá. A banda ganhou o prémio Grammy de Melhor Performance de Metal pela música "Schism" em 2002.

Lateralus exige atenção desde a primeira música, pois torna-se rapidamente aparente que este não é um álbum comum nem simples. Mudanças de compasso e ritmo complexas, vocais elaborados e um ataque violento de mudanças na dinâmica tornam este um álbum com o qual outros grupos de metal poderiam aprender. Foi um álbum bastante inovador e foi bom ter sido lançado no início do século, para mim é um dos melhores álbuns de toda a história do metal.

 

O álbum começa com a música “The Grudge”, a letra faz referência a Saturno, que tem um período orbital próximo de 30 anos, poderia representar a profunda transformação e amadurecimento das nossas vidas desde o nascimento até à maturidade dos 30. E isso é sugestivo nesta canção.

Esta canção tem tudo de incrível, não fosse o facto de se adicionar silêncios, algo que não consigo encontrar um motivo para admirar.

 

Desde o início da faixa a percussão está bastante presente e tem um papel importantíssimo. Cada membro torna o trabalho extremamente bom. Uma coisa que Adam (guitarrista) faz é manter as músicas vivas. Quando estamos a desfrutar do som groovy, ouvimos um riff de guitarra extremamente distorcida que ninguém estava a contar, mas soa muito bem em todo o contexto. Outra coisa que gosto nesta música é que está em crescendo e não se percebe. Contém o famoso scream de 25 segundos feito por Maynard James Keenan, o que mostra uma excelente técnica e domínio vocal.

Existe uma pequena faixa de transição da música “The Grudge” para a segunda do álbum “The Patient”, feita apenas pela guitarra. Esta tem um efeito sonoro incrível, pois parece que nasce da música anterior (que acaba de forma pesada) e o som da guitarra nesta faixa começa bastante leve, conduzindo para a música seguinte, uma transição muito bem conseguida, denominada de “Eon Blue Apocalypse”.

 

A canção “The Patient” tal como o nome indica fala de paciência. Por vezes temos todos os motivos para desistir de algo, nem temos força para continuar, mas o que sentimos que tem de ser feito é aguentar e continuar a lutar, pois há alguma recompensa que nos motiva, uma mensagem profunda passada pela banda.

A nível musical esta música tem um carácter mais calmo, a guitarra está muito presente e a bateria é um pouco repetitiva, mas enquadra se bem neste tema. Adoro quando a música de repente “cai” e logo a seguir recomeça com a bateria a executar ritmos mais rápidos, seguida pela guitarra que faz um mini solo e Keenan canta uma oitava acima por instantes. Depois volta a acalmar e juntam-se umas congas à banda, o que é bastante típico de Tool pois não é nada comum a execução deste tipo de instrumentos no metal. Depois há um diminuendo até ao final, no geral a música está muito boa.

 

Antes de “Schism”, que é para muitos a grande música deste álbum, temos uma pequena faixa, “Mantra” que é a introdução desta grande música.

A música de estreia, “Schism”, começa com uma pulsação sinistra dada pelo baixista, uma linha de baixo superconhecida em todo o metal. Esta transforma-se num riff, enquanto as letras de Keenan traçam uma história de consciência, sobre congas e outra percussão ativada digitalmente. Danny Carey utiliza bastantes instrumentos eletrónicos no seu setup, ligados ao computador onde controla a sonoridade que quer obter. Schism é um excelente exemplo do uso de ritmos complexos e variações de tempo ao estilo dos Tool.

 

Existem muitas ocasiões em Schism que não conseguimos identificar o que é de Justin Chancellor e de Adam Jones. O staccato de Jones combina perfeitamente com as sensibilidades melódicas de Chancellor.

Acho fascinante como conseguiram escrever esta música quase toda à volta ou ligada à linha de baixo executada no início da faixa. Justin já afirmou que o famoso riff de Schism veio de umas brincadeiras entre a banda, o que não é de admirar porque no fundo não é algo que seja difícil de escrever, o que é magnifico e realmente complicado é tudo que fizeram à volta disso.

A música seguinte, “Parabola”, outro clássico da banda, abre com a faixa de introdução "Parabol" e são sempre tocadas ao vivo juntas, formando uma longa peça. “Parabol” é um prelúdio tranquilo com um jogo de palavras sobre o título. A palavra parábola vem do grego e significa uma história breve didática, com “Parabol” sendo uma espécie de fusão entre essa antiga palavra grega e o termo outro significado - lado a lado.

 

Por causa da natureza matemática de muitas das canções em Lateralus, eles falam do número Pi, que é considerado a "proporção divina”. Essa proporção é encontrada em toda a natureza.

Muitas das músicas dos Tool têm um clímax, como um refrão que ocorre apenas uma vez durante a mesma, o que faz muito sentido, segundo as proporções matemáticas que aplicam. No entanto, nesta música, o clímax ocorre no final.

 

A maior conquista desta peça não é apenas o que as letras dizem, mas como elas combinam com a música. Principalmente nesta parte final. Logo depois da letra "All this pain is an illusion", somos conduzidos à coda instrumental com guitarra, baixo e bateria que repete esse único riff.

Depois da música toda cheia de distorção, o que é típico em Tool, termina com uma parte de guitarra limpa, semelhante à que ouvimos em “Parabol”. Ainda ouvimos alguns harmónicos de guitarra, no acorde mi menor. Essas partes silenciosas da guitarra simbolizam que viemos do nada e, eventualmente, vamos para o nada.

 

O término do álbum é com a música “Lateralus” a faixa com mais visualizações a seguir a “Schism”, outro longo e fantástico clássico de Tool. A música começa com a guitarra a repetir um riff, em crescendo, onde vão entrando a bateria e o baixo, não ao mesmo tempo, o que é interessante. Para mim é logo das melhores partes da música. Ao chegar ao clímax, depois do crescendo, temos o grande refrão desta música que se repete e logo a seguir um solo espetacular de guitarra com bastante distorção, que também acontece mais no final da música, acompanhado pela bateria que tem um papel importantíssimo e presente em toda a música.

 

É preciso tempo para absorver Lateralus. Muito mais do que os setenta e sete minutos necessários para reproduzir o disco inteiro. É um dos álbuns mais complexos do metal, recomendo vivamente a audição do mesmo, fiquei a conhecer melhor este álbum e descobri pormenores que não se conseguem identificar, se não estivermos a ouvir com atenção. É esta a complexidade de Tool, a cada vez que ouvimos uma música descobrimos algo novo

Recensão crítica de Rodrigo Feijó, trabalho elaborado para a disciplina de Projetos Coletivos e Improvisação, com orientação da Prof. Ângela da Ponte. Turma do 3º A, Curso Profissional de Instrumentista Cordas & Teclas e Sopros e Percussão da Academia de Artes de Chaves.

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